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Location: Colonha, Minas Gerais

3/08/2007

Essas coisa do Ridejanero!!!

Aqui pode até demorá um poquinho pra nóis ficá sabêno das coisa... Mas nóis fica sabêno tudinho dos acontecido. Iguár esse causo lá do Ridejaneiro, que pra nóis é um lugá muito longe. Só ficâmo sabêno das coisa porque o Arnardinho, que já morô lá fala. É o Arnardinho já morô lá, num sabia?

Pois ó, vô contá procê:

Ele ainda era meio moço quando foi estudá lá. Saiu daqui debáxo duma festança que o seu pai deu, o Dr. Lindorfo Tibúrcio, que tamém andô por lá quando era menino, morâno com uns tio, daqueles tio afastado, que só a famílha conhece direito e num sei bem se era por parte de pai ou de mãe, mas foi. Estudô muitas letra. Sabe fazê todas as conta sozinho da Prefeitura. É páu pra toda obra. Tudo que é narguração tá ele lá, com paperzinho na mão pra fazê discurso. Aliáis, cada discurção, cada um mais bunito que o ôtro. Um dia vô mostrá um que guardei.

Pois é, o Dr. Lindorfo vivia dizêno que o fío Arnardinho tamém ia cabá íno pra lá pra aprendê umas educação fina. Coisa de comerciante bem sucedido. Que precisava trazê o pogréssio pra nóis e que só assim tinha jeito. Ninguém entendia direito o que o Dr Lindorfo falava, mas nóis gostava de escutá. Afinar num tinha ninguém na região que se precisasse de arresorvê argum pobrema num se achegasse nele. Lia de tudo, até aquelas palavra difícir.

O Arnardinho nem bem saiu da grupão e já tava encomendado dele ir fazê umas prova pra vê se podia ficá lá no Ridejanero. Era um rapaizinho encardido, cheio de modernidade, meio metido a entendê de tudo. Que nem o pai.

Que ele foi, isso nóis viu, mas o que ele fêiz lá, isso só ele e Deus sabe. Só muito depois é que nóis ficô sabêno. Sabe como é... Mundo pequeno! Só o pai dele ainda achava que ele foi estudá pra virá dotozinho, que é pra vê se arranjava um jeito de sê funçonáro do Banco do Brasir. E já fáiz um tempão isso.

Como num fêiz uma coisa, acabô num fazêno a outra. O Dr. Lindorfo achava que ele num dava muita sorte na vida. O dinherão que o pai mandava virava tudo cachaça com os amigo, numa sentada só. Varava uns trêis dia direto sempre muito acompanhado dumas mocinha, cada dia dum jeito. O resto do mêis ele tirava pra sará das ressaca. Gastava tudinho com muié e bebida e, se sobrava troco, quemava tudo em foguete.

De vêiz em quando ele dava as cara por aqui. Tava ficâno cada vêiz mais magrinho, desfiado e tamém cada vêiz que vinha chegava mais moreno, mais quemadinho de sór. Tinha até mudado o jeito da fala, tava cheio dos xis e dos erre nas palavra.

O Dr. Lindorfo vivia dizendo que era a dureza dos estudo. Coitado! Num devia de tê tempo pra mais nada. A mãe, Dona Carolina, até que botava certa desconfiança, mas num podia contrariá o marido. Acabô que fazêno acreditá. Num dava nem um pio.

Isso durô pra mais de seis ano, até que um dia arresorveu vortá.

Até que pra dá descurpa pro pai num foi tão difícir. Falô que tinha feito tudo direitinho que depois vortava pra buscá o diproma. Que num precisava de festança, que o pai já tinha gastado muito. Essas coisa! Desceu um rosário de descurpa, que o véio cheio dos orgúio nem se deu conta.

E assim vortô e foi ficâno... ficâno... E nada de arresorvê a vida. Tudo que falava que fazia, falava que tinha num dado certo. E o Dr. Lindorfo sempre achâno que o fio num dava era sorte. Assim ficô até que num tinha mais jeito de disfarçá. A mãe cada vêiz mais apertâno, os vizinho cuchichâno...

Foi aí que estalô umas coisa lá nas idéia dele. Alembrô duns amigo lá do Ridejanero que pra defendê uns troco, já que os pai num tinha jeito de mandá dinhêro, num era assim que nem o Dr Lindorfo, que tinha uns sobrâno e por isso guentava o rojão do fío e aí eles vendia nas berada das festa uns negóço de róti dógui. Tinha uns que já tinha comprado até um trem que eles chamava de treleír. Foi assim que o Arnardinho falô que chamava isso aí que ele arresorveu fazê.

E lá foi ele cheio de arrastação dos xis e dos erre. Botô o tár treleír de róti dógui na praça, bem de frente da igreja. Disse que era pra pegá o povo depois das missa, sabe como é, aquelas missa demorada dos domingo, tudo com fome. Ia dá certinho. Num tem errada! Foi do jeitinho que ele falô.

E lá foi mais um dinherão do Dr.. Diz que dava pra fazê uns trêis restorânte iguar do Zeca e serví de graça as comida durante uns bão duns seis mêis, que era capaiz de sobrá pra dá uns trocado de troco pra cada prato servido.

O tár treleír era só uma bostica duma carrocinha, que devia de sê puxada a cabrito de tão piquinininha. Se fosse puxada de cavalo era capaiz do bicho cagá tudo em cima.

É craro que o Arnardinho num ia só abrí assim de mansinho, sem falá nada pra ninguém. Umas duas semana ântis do dia da narguração, tascô um arto-falante com umas moda bem nas artura, umas luizinha tudo piscâno. Disse que isso era esperteza, que era pra “dexperrtarr” a curiosidade do povo. Que era assim que os grande negóço tinha que sê. Tinha que dexá todo mundo morrêno de vontade...

Mas o povo que nasce na Colonha, já nasce com déiz dia de esperteza, loguinho descobríro tudo. O tár róti dógui era o nome que os ingrêis dava pra chamá os cachorro quente. Pronto, ficô tudo achâno que o Arnardinho tava doido, onde já se viu tanto vortêio pra vendê cachorro pros outro. Ainda por cima quente? Quem ia querê comprá cachorro se todo mundo já tinha pelo menos uns trêis viralata em casa? Por isso a narguração foi dexada pra mais uma semana depois. Ântis o Arnardinho tinha que expricá tudo direitinho.

Bem que tentô, mas só uns pôco acreditáro que cachorro quente era pão com charchicha. Teve muita gente que trancô os viralata tudo nos quintar pra num corrê risco.

E lá veio o dia. Dumingão de sór cheio. Quase metade do dia. Missa cabada.

Lá tava o povo tudo rodeâno a carrocinha do Arnardinho. A mulecada se lambuzâno com os cachorro quente e umas garrafinha de garaná. Tudo na maior alegria. O seu Antéro, que Deus o guarde, que era um véio meio enjuado, gostava das coisa tudo muito certinho, tamém arresorveu que ia comê um cachorro, já que tava o povo todo. Disse que nunca tinha exprementado, que bateu uma vontade tamém. Foi se achegâno... achegâno... assim que meio que encabulado... oiâno tudo desconfiado... quando viu, já tava na cara do Arnardinho. Num dava mais pra vortá. Num teve ôtro jeito, chamô um pros peito.

Aquilo pro Arnardinho era a mesma coisa de conseguí entrá no céu. Se o seu Antéro gostasse, pronto ninguém mais ia por um pinguinho de dirficudade.

Todo mundo tamém parô pra vê. O Arnardinho deu o maior capricho no bicho e ainda por cima lascô uma garrafinha de garaná de grátis.

Ainda meio disconfiado o seu Antéro pôis a garrafinha em cima da capotinha da carrocinha, pegô o saquinho deu umas cheradinha, oiô prum lado, oiô pro ôtro, mas nada de dá nem uma mordidinha. O Arnardinho já tava todo enfiado por cima da carrocinha, com os zóio arregalado, só esperâno o balancêio da cabeça do seu Antéro dizêno que era bão.

Mas nada. O hôme só cherava e oiáva de lado. Aí ele arresorveu abrí o pão pra dá uma espiadinha lá drento e foi aí que a coisa fedeu.

Começô a ficá vermêio, desandô a dá umas guspidinha pra tudo que é lado, que a mulecada até se afastô, e já foi logo falâno meio arto: - Que isso Arnardinho, ocê tinha que me dá logo a pior parte do cachorro???

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