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Location: Colonha, Minas Gerais

12/17/2006

Ô dó!!!

Aqui nessa cidadezinha, onde quase nada acontece de diferente, acontece cada coisa!!!

Me lembro duma estória, que tamém num sei porque me veio assim na cabeça...

É o causo do Tião Malinha...

Só quando era menino, o Tião era conhecido como Tião... virô Tião Malinha por causa do exérsto. É verdade... por causo de quando ele foi serví o exérsto.

Foi assim:

Nóis ainda era tudo pequeno, criança, quando o Tião fêiz 18 ano e foi serví o exérsto que fica em Posalegre. Uma cidade aqui perto da nossa Colonha.

Pra ele chega até lá, tinha que andá uns 2 Km de a pé até a encruziada pra pega a jardinêra. Aquela encruziada que vai pra Borda. No caminho, nunca passava um carro, nem perdido e então, por causo disso, nóis nunca tinha esse negóço de asfárto, que é uma belezura, fica tudo limpinho, só os pé que fica um poquinho pretinho, mais é coisinha a toa... mas ali não, era tudo chão de terra, poêra fininha, fininha, quarqué ventinho e pronto, poerão.

O Tião quando foi então pro exérsto, virô o maior orgúio do povo da colonha. Assim de vêiz em sempre, ele vinha dá umas passada aqui e aí nóis tudo corria prá vê ele estalâno naquela fardinha verdinha, limpinha, que era o maior orgúio do Tião. Começáro então a falá que num era possíver o Tião andá 2 Km de poêra pura e chegá na colonha tão verdinho, sem nenhuma poerinha, com os botão da farda tudo briando. Num havia de tê jeito. Aí começáro a botá reparo.

Pra encurtá a estória, descobríro que o Tião quando saía de casa pra ir simbora, saía com a farda engomadinha, tinindo de verde, mas quando passava na venda do Juca Parada, entrava no banhêro, aquele que ficava atráis da venda. Ele trocava de rôpa, tirava a farda, espanava até o úrtimo fiapo de pó e guardava na malinha, toda cheia de dobrinha. Depois de vestí uma rôpa de paisano, ia até a encruziada. Chegano lá, corria pra tráis da jaquêra e destrocava a rôpa de novo e lá ia ele de farda verdinha de novo pegá a jardinêra. Isso era na ida e na vorta. Só pra num empoerá a farda, seu maior orgúio.

Num deu muito tempo começáro a chamá ele de Tião Malinha por causo dessa malinha que guardava a fardinha.

Achei importante contá essa estória que é procêis conhecê um poco o Tião Malinha.

Num era bem essa estória que tinha lembrado no começo, mas o Tião de vêiz em quando, nunca sai da cabeça por causo dos acontecido depois de um tempo, quando ele já ponhava começo na carrêra.

Já tinha virado cabo e ia sê sargento loguinho. Caso triste de dá dó.

O Tião Malinha de hoje, nem de perto é mais o mesmo. Mudô tudo.

Coitado, que Deus o ajude, ô dó!

Lá ia tudo tão bem. O Tião cada vêiz mais sordado, só via verde em tudo, era a única cor que prestava. Vermêio era cor do capeta... dos cumunista, esses então pior que os capeta. Vermêio era a luiz das casa das muié da vida... vermêio... capeta... cumunista... cor do inferno...

Toda vêiz que o Tião trenáva dá uns tiro com aquele espingardão, a mira era sempre um cumunista desgraçado... falava que devia de tá preparado pra guerreá... - Nunca se sabe... esses vermeio desgraçado num avisa!

Esse era o Tião Malinha.

Uma vêiz meio assim ressabiado, eu arrisquei perguntá o quê que era esse cumunista. O Tião me oiô com os zóio fervêno, deu uma guspida, daquelas cagada de pato pro lado e virô com o dedo pra mim: - Óia, é um bicho feio! Eu nunca vi não, graças a Deus! Mas é muito feio! Tudo venenoso, tudo armado! Mata quem tivé na frente, sem dó!

Esse era o Tião Malinha.

Valente, havéra de defendê nóis tudo contra esses cumunista safado. Num podia vê quarqué coisa vermêio na frente que guspia em cima. Se nóis usava uma rôpa vermêia mandava nóis trocá na horíca... Pra ele num devia de existí essa cor. Tinha que ser tudo verde... isso sim é que era cor de gente... cor dos canhão que ele tinha tirado fotrogafia junto... verdão escuro... cor da pátria!

Coitado, num é mais assim. Ô dó !

É bão falá que o Tião Malinha era o irmão mais véio de quatro. Depois dele vinha a Mariinha do Padre, depois a Crarinha da Preta e por fim na rapa do tacho, o Zé Pardinho.

A estória se assucedeu foi por causo do Zé Pardinho, irmão mais novo, que dêisde que se entendeu que nem gente, era um caboquinho enguiçado. Saiu da escola no primêro mêis porque num guentô aquele palavrório da professorinha. Coitadinha! Tão esforçadinha! Vinha de longe pra tentá ensiná aquela peãozadinha, tudo burrinho. Mas o Zé achou que aquilo num era pra ele, ficava demorâno muito pra entendê direito, que o quê ele gostava mesmo era da prosa com a Das Graça, namoradinha dêisde pequeno... e de trabaiá.

Era boa gente. Todo mundo gostava dele. Um rapaiz apessoado que as moça vivia atráis de suspiro. Fazia as coisa que o Tião nunca teve corage de fazê... principarmente com as menina! Nunca havéra de tê levado dezafôro pra casa e nem deixava os amigo tamém levá. Nas discussão então, num tinha esse que ganhava, bão de prosa. Acho que era por causo disso que o Tião Malinha gostava tanto desse menino. Tinha tudo pra dá certo na vida, belezura, era um rapaiz bonito, bão de prosa, trabaiadô. Num gostava das coisa obrigado, tudo tinha que sê da vontade das pessoa. Por isso nunca quis ir pro exérsto. Isso foi desgosto pro Tião.

Mas fazê o quê, o rapaiz era que nem passarinho, avuava em tudo que é gáio!

Foi assim que ele um dia avuô pra outra cidade. Disse que queria ganhá uns cobre pra dá um jeito de casá com a Das Graça e que num tinha ôtro jeito, aqui num ia conseguir. Ia vortá e comprá um pedacinho das terra do seu Honorato, pai do Zé Candinho, que era seu amigo dêisde menino. Esses dois formáro uma parêia de muleque que só mesmo o Padre Onofre podia dá jeito, isso depois que botô os dois de coroinha lá na igreja...

Num tinha mais jeito. Tava arresorvido. E lá foi ele mais o Tião Malinha pegá a jardinêra.

Lá em Posalegre, o Tião ficô e o Zé sumiu nesse mundaréo.

De vêiz em quando chegava umas cartinha dele pra Mariinha ou então prá Das Graça. Sempre uma de cada vêiz. Uma vêiz eu peguei no envelope, tinha umas bordinha listadinha de verde e amarelo com um desenhinho de um aviãozinho azur mais no canto. A letra era bonita. Acho que por desconfiança, num acriditei muito que aquela letra era do Zé Pardinho. Tava bem redondinha. Num devia de sê!

A Mariinha do Padre falava que ele tava dizêno que tava bem. Que tinha andado num monte de cidade tudo ali perto de Posalegre e que agora tava íno mais pra cima um pôco. Num lembro bem o nome da cidade, mas parece que era São Sebastião do Não Sei o Quê. O Padre Onofre quando ficô sabêno, falô que agora ele acertava. Tava íno pra uma cidade com nome de santo e, pelo jeito, era santo forte.

Pois óia! Foi aí que a coisa se assucedeu... com nome de santo e tudo!

Foi uma tristeza que num tem tamanho. O Padre Onofre sempre falava pra nóis que só ia pro céu quem levasse a vida nas alegria. Mas óia! Se alegria fosse preço pra entrá no céu, pelo tamanho da tristeza que nóis sentiu, nóis ia chegá pra São Pedro e cobrá o troco. E posso garantí que ele ia tê que corrê no Banco do Brasir lá do céu, pra tirá emprestado pra devorvê pra nóis. Com dois fiadô e tudo mais que temo direito.

O assucedido foi o seguinte, e nóis só ficô sabêno disso depois: um desses dia, iguár a todo dia, correu a notíça lá em Posalegre da corriria que um bando de cumunista tava fazêno pra entrá na marra numas terra do Dr. Julião Dergado, que eu já tinha ovído falá, mas num nunca tinha visto ele. Me parece que esse Dr. Julião morava na Sumpaulo. Tinha muitas coisa lá. Era rico. Diz o povo ele que morava numa casa que chamava de mansôis, que era uma coisa assim, mais grande que aqueles castelo da rainha da Ingraterra. Diz que tinha muitas terra, que quando entrava num dava pra vê o fim. Mas que num tinha nem um pezinho de arface prantado. Nem uma vaquinha perdida... nada! Só erva de passarinho e arranha gato. Mato dos brabo! Parece que foi nesse lugá que aquele bando de cumunista quizéro entrá.

E foi aí então que mandáro as força do exérsto acudí, porque as policia num ia dá conta, tanto era os cumunista, tudo embanderado. Diz que parecia uma boiada desembestada. Tudo vaca vermêia!

Quando lá no exérsto chamáro o povo e disséro que ia baxá o cacete nuns cumunista, o Tião Malinha foi o primeiro que correu pro caminhão com aquele espingardão na mão. Subiu bufâno no caminhão. E lá fôro eles...

O Tião no caminho num falô nenhuma palavrinha. Tava com os zóio assim, meio arregalado, só pensâno como é que era a cara desses cumunista safado. Diz que pensô que agora eles ia vê com quem eles tava mexêno. Que aqui eles num ficava, nem que a vaca tussa.

Chegáro e já fôro fazêno aquele filão, cada um do lado do ôtro. Era mais ou menos uns cinco caminhão de sordado. Ficáro esperâno os desgraçado. O Tião ainda deu umas arrumada na farda, espanô a poêra, queria que os desgraçado visse direitinho o verdinho da farda. Diz que derepente escutáro um vozerão de gente corrêno. Lá vinha eles. O comandante falô que se eles chegasse muito perto era pra mandá bala e seja o que Deus quizé!

Num deu outra. O Tião Malinha fez mira no primêro que vinha com uma bandêra. Antes deu aquela guspida de lado e afirmô a mira.

Foi tudo assim que nem relâmpio. Num deu nem pra piscá. Quando viu já tinha visto. Mas foi nesse úrtimo instantinho, que só o pensamento é capaiz de corrê, mais nada, quando a bala já tava saíno do cano da espingarda... o Tião Malinha se arrepiô... ele arreconheceu o hôme da mira...

É isso mesmo... era o Zé Pardinho. Que Deus o guarde! Ô dó!

O Tião destampô a corrê que nem lôco. Os que vinha do lado do Zé Pardinho arrecuáro. O coitado do Tião se agarrô com o irmão. Era um abraço tão forte que o Zé sumiu no meio. Ficáro um tempão assim lá, até que foi preciso uns quatro sordado, daqueles fortão, pra separá os dois.

Foi aí que o Tião – coitado! – botô reparo que a farda, orgúio dos orgúio, num era mais verde. Tava vermêia. Mas num era aquele vermêio dos capeta... dos cumunista. Era o vermêio do sangue... da cor da vida do irmão... da cor dos sonho do irmão... ô dó!

O Tião que nóis conhece hoje, num é mais o Tião Malinha.

Largô a malinha, largô o exérsto e vortô a sê só... Tião.

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